quarta-feira, 21 de setembro de 2011

“‘CÊ-DÊ-EFES’, VENHAM PARA FORA!”

João, “o discípulo amado”, como o Mestre costumava chamá-lo, deixou registrado em seu Evangelho o milagre da ressurreição de Lázaro, realizado por Jesus Cristo em Betânia. “Lázaro, vem para fora!” (Evangelho de João. Cap. 11. Vers. 43). Com esta frase, Cristo trouxe à vida seu amigo, que jazia há quatro dias.

Parafraseando este chamamento de Jesus, conclamamos com fé inabalável que os “cê-dê-efes” ressurjam, ou que, pelo menos, os remanescentes não se envergonhem de serem alcunhados de “inteligentes” ou “exemplares”.

Outrora, os estudiosos da Psicopedagogia identificaram que algumas pechas, que eram atribuídas a alunos que apresentavam indisciplina para os estudos e no ambiente escolar, como: “burros”, “tapados”, “terríveis”... eram totalmente prejudiciais ao desenvolvimento e recuperação da “autoestima estudantil”. Embora haja controvérsias, a maioria dos educadores concorda com esta tese.

É sabido que, via de regra, os alunos desinteressados e indisciplinados, são extremamente criativos no que diz respeito a desanimar, ofender, enfim, promover ações de bullying contra os “cê-dê-efes”. O que é grave e inadmissível. Porém, há algo mais apocalíptico. Como diz um amigo meu: “se a coisa tá ruim, calma, porque vai ficar pior.”

Um fenômeno (in)esperado já ocorre no ambiente escolar, em maior escala, evidentemente, nos países desenvolvidos: alunos tidos como exemplares têm declarado que não há: “Nada mais brega do que bancar o inteligente”, conforme afirmou um aluno referencial inglês ao seu mestre. Para muitos ser inteligente é possuir uma personalidade sem graça, ser chato, o queridinho dos professores e outras coisas que não podem ser escritas aqui. Catedráticos da Inglaterra estudam este comportamento há algum tempo e identificam que ele fica cada vez mais comum, beirando ao natural.

Para potencializar o caos e alcançarmos cento e oitenta graus de mudança, estes estudos notaram que, muitos destes alunos passam de vítimas a algozes – de sofredores para praticantes de bullying. Acreditem em meu amigo agora?

Transformar esta realidade implica em vencer a dois gigantes univitelinos:

Por um lado, deparamo-nos com um Golias, a multiplicação dos desejos por meio de propagandas fantásticas e inerentes a uma sociedade de consumo. Tais desejos desmedidos possuem um veneno muito poderoso, capaz de tomar todo o sistema neurológico rapidamente. Paralisa a sensatez no indivíduo, fazendo-o perder a noção de que as coisas são fruto de um processo, obedecem à Lei da Semeadura e de que é preciso disciplina e espírito ávido, como o de um discípulo, para se obter a plenitude dos desejos.

Por outro, o “Mito da instantaneidade” levanta-se como fortaleza na mente dos incautos, fazendo-os ter por verdade que a qualquer momento, seja por esperteza, sorte, força, beleza, palhaçada ou graça, obterão o que desejam. Esquecem-se de que tudo o que é feito instantaneamente é mágica, ilusão, algo volátil.

Na tentativa de não causarem trauma em alunos que não obtêm êxito em atividades ou provas, há professores que evitam a correção à caneta vermelha, bem como trocam expressão como: “fracasso escolar” por “sucesso adiado”. O que já é uma controvérsia. Mas, seguindo a filosofia do meu amigo, agora é posto à nossa frente o maior paradoxo de todos os tempos: como tratar alunos inteligentes e exemplares, de modo a não estigmatizá-los? Deveremos evitar chamar de “inteligentes” aos inteligentes e de “exemplares” aos exemplares? Pois já tem sido este o paliativo ministrado por educadores ingleses.

Estamos na iminência de uma época que vou denominar de “Era da igualdade plena – o apocalipse chegou” (se é que já não a alcançamos). A busca frenética por um tratamento igual a desiguais levar-nos-á a uma implosão educacional, uma vez que à inversão de valores já chegamos.

Aos que possuem uma funda, algumas pedras e boa mira, mas, sobretudo fé para ressuscitar mortos, sejam bem vindos ao combate!

Isaias Martins

3 comentários:

  1. Isaías, seja muito bem-vindo ao nosso oráculo da escrita libertária!!!
    Adorei seu post, continue a nos brindar com essa maravilhas. Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Ótimo texto!!!Parabéns, Mestre!!!Bem, sua pergunta é retórica, porém quero e faço questão em responder: “Não tenho problema em ser acusada desta ação infame de ser uma aluna Inteligente e Exemplar”. Ok!Professores Tânia e Isaías. Rs... ah!!não estou inclusa neste fragmento “A busca frenética por um tratamento igual a desiguais”. Agora, fazendo uma reflexão em relação ao convite para entrar no combate, só com muita FÉ, pois a realidade educacional está desencantadora. Muito Triste!!!E falando em tristeza não esqueço de uma nota 9.5 no 3º ano do ensino médio, deveria ter sido 10, sempre fui aluna exemplar. Rs...

    ResponderExcluir

Este blog foi criado para promover o debate e a prática da escrita principalmente entre estudantes de graduação. Todo e qualquer comentário é muito bem vindo, desde que seja respeitoso e que contribua para o crescimento intelectual e social de tod@s. Portanto, não serão tolerados desrespeitos nem agressividades.