Esta postagem refere-se à simulação de uma língua que nomeamos “Jumar”, a qual integra um trabalho de descrição e teorização morfológica apresentado à Profª Tânia Rezende como critério avaliativo. Seguem os dados:
1) Blicat ‘ligar’
2)
Blicattot ‘ele ligou’
3)
Blicattat ‘ela ligou’
4) Blicattout ‘nós ligamos’
Observem que a composição das
unidades 1 e 2 revelam que a primeira constitui a base para a formação da
segunda ( e de todas as formas seguintes). Logo, nesta língua, a raiz é
expressa, ao se tratar de verbo, sempre sob a forma do infinitivo. Além disso,
as formas 2, 3 e 4 apontam uma oposição na expressão e no conteúdo entre /-tot/
‘ele’, /tat/ ‘ela’ e /out/ ‘nós’, o que , dada a artificialidade da língua, nos
permite certificar esta análise. Entretanto, há de se observar certas irregularidades
nesta língua, as quais podemos verificar nos seguintes dados:
5)
Blitactateé ‘Ela ligou-me’
6)
Blitacauzié ‘Eles ligaram-te’
Nestas unidades apresentadas,
podemos observar que há uma mudança morfofonêmica denominada metátese - fenômeno que consiste na
transformação da ordem dos fonemas -, verificada em todas as expressões
que contêm pronomes, ocasionando assim, uma permutação entre as duas últimas
consoantes presentes na raiz da “palavra”. Isso pode ser verificado na ocorrência
de /c/ quando seria de esperar /t/, segundo os dados acima referidos.
Outra importante reflexão está na
comparação das unidades 5 e 6 com as unidades 2, 3 e 4, as quais permitem
identificar os morfemas /eé/ ‘me’, /auz/ ‘eles’ e /ié/ ‘te’; capazes de nos
revelar os seguintes pares morfêmicos: /tat/ ‘ela’ e /tot/ ‘ele; /eé/ ‘me’ e /ié/ ‘te’ (pertencentes à classe
dos pronomes). Portanto, a língua “Jumar”, como foi observado, é divisível,
basicamente, em dois ou três segmentos: tema + agente + pessoa sujeita à ação;
e seguindo, em geral, esta ordem.
Podemos observar que esta língua fantasiosa segue em essência a organização da língua hebraica, uma vez que esta nos serviu de base tanto na criação como na descrição daquela.
Observem os dados a seguir:
1) ktb 'escrever'
2 ) katab 'ele escreveu'
3) katib 'escrevendo'
4) kitab 'livro'
5) maktab 'lugar para
escrever'
Ao observarmos a primeira
unidade, percebemos que por se tratar de uma língua semítica, o padrão mais
geral para as raízes é CCC (consoante). Em 'ktb-escrever' o verbo é composto de
três consoantes e posteriormente há a inserção de outras letras que configuram
a mudança tanto do tempo verbal quanto de classe de palavra ou mesmo a origem
de uma sentença.
Em 'katab-ele escreveu', a
inserção de 'a-ab' origina a conjugação do verbo em terceira pessoa do singular
referente à primeira unidade. Isso ocorre também 'katib-escrevendo': ao inserir
'a-i' na raiz tem-se um verbo em gerúndio.
As unidades 4 'kitab-livro' e 5
'maktab-lugar para escrever' diferem-se das exemplificadas anteriormente pelo
fato de que não se tratam de verbos. Em 4 observa-se que a inserção de 'i-a'
deu origem a um substantivo. É interessante observar que se fôssemos
considerar apenas a glosa dos dados, diríamos que se trata de um fenômeno
irregular, pois a relação de derivação que há entre 'escrever' e 'livro'
não é direta. Todavia, estamos tratando de uma língua semítica, ou seja, uma
língua que não pertence ao mesmo grupo linguístico do português e, portanto, as
características derivacionais diferem-se não somente em relação ao fator
morfológico, mas também semântico da língua.
Esse fenômeno também acontece
parcialmente na unidade 5: a inserção de 'ma-a' originam uma sentença, ou seja,
tem-se um substantivo masculino singular e uma preposição que se relacionam com
verbo.
Desta forma percebemos que a
língua em questão apresenta modelos de derivação morfológica diferentes do
português. Isso acontece, sobretudo porque se tratam de línguas cujos grupos
linguísticos são diferentes (semita e indo europeu). A unidade mórfica que
possibilita a transformação das palavras analisadas são os infixos, ou seja,
morfemas que se inserem por completo no interior da raiz. É muito interessante
observarmos que esse processo denominado 'infixação' propicia mudanças radicais
no sentido da palavra: um verbo que origina verbos conjugados, em tempos
verbais diferentes e até mesmo a origem de outro substantivo que não possui
relação direta com a raiz. Assim, fica-nos claro que o impacto desse fenômeno
morfológico causa diferentes resultados nas diferentes línguas existentes.
Logo, é visível a complexidade destes sistemas linguístico, uma vez que compreendem "fatores" intensamente distintos dos que nos é comum na língua portuguesa, fato que nos exige uma atenção cuidadosa e nos possibilita direcionar um olhar diferenciado sob o objeto em questão.
Jullyana Correa Ribeiro
Marco Aurélio Tomaz Cardoso
Parabéns Juliana e Marco Aurélio o trabalho ficou muito bom, a criatividade da língua e o nome dela ficou excelente e extremamente criativa.
ResponderExcluirObrigada, Helenice!! Estamos satisfeitos com a realização desse trabalho!!
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