terça-feira, 18 de setembro de 2012

"Jumar", uma língua simulada a partir do Hebreu

Esta postagem refere-se à simulação de uma língua que nomeamos “Jumar”, a qual integra um trabalho de descrição e teorização morfológica apresentado à Profª  Tânia Rezende como critério avaliativo. Seguem os dados:


1) Blicat        ‘ligar’
2) Blicattot    ‘ele ligou’
3) Blicattat     ‘ela ligou’
4) Blicattout   ‘nós ligamos’

            Observem que a composição das unidades 1 e 2 revelam que a primeira constitui a base para a formação da segunda ( e de todas as formas seguintes). Logo, nesta língua, a raiz é expressa, ao se tratar de verbo, sempre sob a forma do infinitivo. Além disso, as formas 2, 3 e 4 apontam uma oposição na expressão e no conteúdo entre /-tot/ ‘ele’, /tat/ ‘ela’ e /out/ ‘nós’, o que , dada a artificialidade da língua, nos permite certificar esta análise. Entretanto, há de se observar certas irregularidades nesta língua, as quais podemos verificar nos seguintes dados:

5) Blitactateé        ‘Ela ligou-me’
6) Blitacauzié       ‘Eles ligaram-te’

            Nestas unidades apresentadas, podemos observar que há uma mudança morfofonêmica denominada metátese - fenômeno que consiste na transformação da ordem dos fonemas -, verificada em todas as expressões que contêm pronomes, ocasionando assim, uma permutação entre as duas últimas consoantes presentes na raiz da “palavra”. Isso pode ser verificado na ocorrência de /c/ quando seria de esperar /t/, segundo os dados acima referidos.
            Outra importante reflexão está na comparação das unidades 5 e 6 com as unidades 2, 3 e 4, as quais permitem identificar os morfemas /eé/ ‘me’, /auz/ ‘eles’ e /ié/ ‘te’; capazes de nos revelar os seguintes pares morfêmicos: /tat/ ‘ela’ e /tot/ ‘ele;  /eé/ ‘me’ e /ié/ ‘te’ (pertencentes à classe dos pronomes). Portanto, a língua “Jumar”, como foi observado, é divisível, basicamente, em dois ou três segmentos: tema + agente + pessoa sujeita à ação; e seguindo, em geral, esta ordem.
            Podemos observar que esta língua fantasiosa segue em essência a organização da língua hebraica, uma vez que esta nos serviu de base tanto na criação como na descrição daquela. 
Observem os dados a seguir:

               1) ktb  'escrever'
2 ) katab 'ele escreveu'
3) katib 'escrevendo'
4) kitab  'livro'
5) maktab  'lugar para escrever'

Ao observarmos a primeira unidade, percebemos que por se tratar de uma língua semítica, o padrão mais geral para as raízes é CCC (consoante). Em 'ktb-escrever' o verbo é composto de três consoantes e posteriormente há a inserção de outras letras que configuram a mudança tanto do tempo verbal quanto de classe de palavra ou mesmo a origem de uma sentença.
Em 'katab-ele escreveu', a inserção de 'a-ab' origina a conjugação do verbo em terceira pessoa do singular referente à primeira unidade. Isso ocorre também 'katib-escrevendo': ao inserir 'a-i' na raiz tem-se um verbo em gerúndio.
As unidades 4 'kitab-livro' e 5 'maktab-lugar para escrever' diferem-se das exemplificadas anteriormente pelo fato de que não se tratam de verbos. Em 4 observa-se que a inserção de 'i-a' deu origem a um substantivo. É interessante observar que  se fôssemos considerar apenas a glosa dos dados, diríamos que se trata de um fenômeno irregular, pois a relação de derivação que há entre 'escrever' e  'livro' não é direta. Todavia, estamos tratando de uma língua semítica, ou seja, uma língua que não pertence ao mesmo grupo linguístico do português e, portanto, as características derivacionais diferem-se não somente em relação ao fator morfológico, mas também semântico da língua.
Esse fenômeno também acontece parcialmente na unidade 5: a inserção de 'ma-a' originam uma sentença, ou seja, tem-se um substantivo masculino singular e uma preposição que se relacionam com verbo.
Desta forma percebemos que a língua em questão apresenta modelos de derivação morfológica diferentes do português. Isso acontece, sobretudo porque se tratam de línguas cujos grupos linguísticos são diferentes (semita e indo europeu). A unidade mórfica que possibilita a transformação das palavras analisadas são os infixos, ou seja, morfemas que se inserem por completo no interior da raiz. É muito interessante observarmos que esse processo denominado 'infixação' propicia mudanças radicais no sentido da palavra: um verbo que origina verbos conjugados, em tempos verbais diferentes e até mesmo a origem de outro substantivo que não possui relação direta com a raiz. Assim, fica-nos claro que o impacto desse fenômeno morfológico causa diferentes resultados nas diferentes línguas existentes.
Logo, é visível a complexidade destes sistemas linguístico, uma vez que compreendem "fatores" intensamente distintos dos que nos é comum na língua portuguesa, fato que nos exige uma atenção cuidadosa e nos possibilita direcionar um olhar diferenciado sob o objeto em questão.


Jullyana Correa Ribeiro
Marco Aurélio Tomaz Cardoso





2 comentários:

  1. Parabéns Juliana e Marco Aurélio o trabalho ficou muito bom, a criatividade da língua e o nome dela ficou excelente e extremamente criativa.

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  2. Obrigada, Helenice!! Estamos satisfeitos com a realização desse trabalho!!

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